À medida que o tempo livre aumenta, também aumenta a sensação de bem-estar da pessoa – mas apenas até certo ponto
Tempo livre demais também pode ser uma coisa ruim, garante uma equipe de psicólogos da Universidade da Pensilvânia (EUA). “As pessoas costumam reclamar de estar muito ocupadas e expressam que querem mais tempo. Mas, na verdade, mais tempo está relacionado a uma maior felicidade? Constatamos que a falta de horas discricionárias no dia resulta em maior estresse e menor bem-estar subjetivo; no entanto, embora pouco tempo seja ruim, ter mais tempo nem sempre é melhor,” detalhou a professora Marissa Sharif.
A equipe analisou os dados de 21.736 adultos que participaram de uma pesquisa de âmbito nacional nos EUA sobre o tempo livre (American Time Use Survey). Os participantes forneceram um relato detalhado do que fizeram nas 24 horas anteriores – indicando a hora do dia e a duração de cada atividade – e relataram sua sensação de bem-estar. Os dados mostraram que, à medida que o tempo livre aumentava, o bem-estar também aumentava, mas esse bem-estar estabilizou-se em cerca de duas horas e começou a diminuir após cinco horas de tempo livre. As correlações em ambas as direções foram estatisticamente significativas.
Os pesquisadores também analisaram dados de 13.639 trabalhadores que participaram do Estudo Nacional sobre Mudanças na Força de Trabalho, onde os participantes também foram questionados sobre a quantidade de tempo livre e seu bem-estar subjetivo. Mais uma vez, níveis mais elevados de tempo livre estavam significativamente associados a níveis mais elevados de bem-estar, mas apenas até certo ponto – depois desse ponto, o excesso de tempo livre não foi associado a maior bem-estar.
Ter um propósito
Para investigar o fenômeno, os pesquisadores realizaram dois experimentos online envolvendo mais de 6.000 participantes, com tempos livres indo de baixo (15 minutos por dia), moderado (3,5 horas por dia) a alto (7 horas por dia). Os participantes de ambos os grupos de tempo livre baixo e alto relataram bem-estar inferior ao do grupo de tempo livre moderado. Os pesquisadores descobriram que aqueles com pouco tempo livre se sentiam mais estressados do que aqueles com uma quantidade moderada, contribuindo para um menor bem-estar, mas aqueles com altos níveis de tempo livre se sentiam menos produtivos do que aqueles no grupo moderado, levando-os a também ter menor bem-estar.
“Nossos resultados sugerem que ter dias inteiros livres para preencher a critério próprio pode deixar essa pessoa igualmente infeliz. Em vez disso, as pessoas deveriam se esforçar para ter uma quantidade moderada de tempo livre para gastar como querem. Nos casos em que as pessoas se deparam com uma quantidade excessiva de tempo livre, como aposentadoria ou abandono do emprego, nossos resultados sugerem que esses indivíduos se beneficiariam em gastar seu tempo recém-adquirido com um propósito,” disse Sharif.
Checagem com artigo científico: Artigo: Having Too Little or Too Much Time is Linked to Lower Subjective Well-Being Autores: Marissa A. Sharif, Cassie Mogilner, Hal E. Hershfield Publicação: Journal of Personality and Social Psychology DOI: 10.1037/pspp0000391